terça-feira, 21 de outubro de 2014


ensopam minha blusa
sem motivo
pelo banal aperto na garganta
pela saliva que desce seca

                                                   lágrimas
(em andamento)
chiado no peito
esforço do grito

o ar rarefeito
acordo tossindo
engasgo em seco
garganta fechada
respiro imediato
a boca rasgada
a raiz do gosto
de azedo proveito
bruta macieira 
nasceu em meu peito
pra quê morar em São Paulo se tem um Uruguai inteiro?
pra quê morar em São Paulo se tem o Rio de Janeiro?
se tem São Luís de Paraitinga,
se tem Três Corações,
ou um só, mesmo.
desconfiar não é comigo,
eu abraço peito aberto
sem saber assim ao certo
se vem ou não inimigo

e quando não retribuem
esta rara serventia,
não troco noite por dia,
nem me volto ao meu umbigo

eu confio de começo porque sei que não perdoo,
e por isso – deixo claro – meu peito não traz pranto
pois do tanto que é raro e verdadeiro que me doo,
pra não perdoar, sei: tenho aval do meu santo.

e assim mostro no caminho, sem vaidade, a que vim:
pra que além dessa cidade, confiem às cegas por mim
das vezes que enganada, nem lembro ou penso sobre
corto o mal pela raiz, não cultivo planta podre

assim se distingue logo bem cedo
quem é de fé, e quem é de medo.