quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

hoje foi um dia feliz porque, voltando do circo, comi melancia no ônibus.
hoje eu não trepei.
hoje eu não fui ao cabeleireiro.
hoje meu salário não caiu na conta, e nem é hoje que o porteiro vem me ajudar a pendurar o quadro azul e laranja que Téo me trouxe de Acapulco há 3 meses, quando estávamos juntos.
hoje não vou ver o Téo.
hoje eu acordei bem cedo, peguei o ônibus, fui ao circo, e me dependurei de um tecido de uns 5 metros. me lembro de ter passado pelo trapézio e pela lira, ter suado bastante, e dado risada enquanto as veias me saltavam da mão e os calos se apertavam nas juntas dos meus dedos cheios de giz pra não escorregar do trapézio.
hoje eu fiquei três horas me pendurando no circo. e, na volta, eu comi melancia no ônibus.
hoje eu não consegui sentar em um lugar longe do sol.
hoje o cobrador não estava bem humorado.
hoje o trânsito não estava bom.
hoje eu acordei bem cedo, peguei o ônibus, fui ao circo, e me dependurei de um tecido de uns 5 metros. me lembro de ter passado pelo trapézio e pela lira. hoje eu fiquei três horas me pendurando no circo, a sentir o sangue me inundando as veias da cabeça que saltavam, e eu ria com a corda do trapézio me carimbando os dedos recém-acordados.
e hoje foi um dia feliz porque na volta do circo, eu comi melancia no ônibus.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Intimidade V

Aquela camiseta velha, furada, cheia de remendos vai sempre ser mais querida que o vestido fino, o sapato lustrado. O tempo amacia a gente, pra ficarmos bem na medida do corpo do outro. Eu não quero gente nova, envernizada e desconfortável. Intimidade é preferir o corpo que já tomou a forma do nosso, e nele - usado, gasto, tantas vezes descoberto - encontrar o perfeito conforto.