a esquina da orelha
que se chama lóbulo ou halo ou qualquer coisa de bonito
que tem um cheiro
diferente da raiz do cabelo
que é outro da raiz do grito
que é outro que o aroma da costas
o detalhe
das três
pintas
justapostas
na encosta
entre a coluna
e as covinhas
dos quadris
a manhã me diz
cada esquina sua tem um cheiro
mas o do canto do pulso
parece fruta seca
cabem cem damascos em um
que quando a língua toca,
explode damasco até
a gente se ver laranja por dentro
laranja meu centro
e aqui fora azul
de noite serena
a gente dança
eu estive aqui
eu estive aqui
eu estive aqui
todos esses dias longe
eu sou capaz de dizer
que te vi dormir
que te guardei o sono
odé correu me deu as folhas
o segredo do mato
o dente de leão
no fumo
no fundo
eu não sabia, mesmo
mas acho que sem saber
sabia
que se eu te mordesse
a boca
ia me dar na telha
que pareceria fruta seca, que faz
caber cem damascos em um só
que quando a língua toca,
explode damasco até
dar nó na língua
dá nó na telha
só de pensar
só de pensar
só de pensar
essa centelha,
faz vento frio
dessa pele santa
planta a semente
que vai arvorar lá na frente
e a gente nem viu
a gente nem viu
a gente nem viu
mas mesmo sem ver
a gente sabia derreter
cera de vela
chá de laranja
perfuma panela
fumaça de palo santo
limpa a sala limpa a casa
me abre a janela e me acorde
até o que a gente morde
o que essa gente sórdida
diria de nós
desatar nós
deixa a gente a sós
deixa a gente em paz
eu vou pintar
seu rosto desse matiz
esse verde escuro
de giz que é a cor
que é a raiz
do grito
é a gota d’água essa
míngua que
pinga
pinga
pinga
na gente
dos olhos dessa gente má
me guarda o ofá
carrego na folha
tudo o que eu sei
tudo o que eu sou
é mata adentro
guerreiro, pro seu ofício, precisa de dois
de dor, de confronto.
eu sou filha de caçador
eu vim sozinha
eu nasci pronta
aqui há maria
ou haveria
se me desse aos pares
mas me alumia
os escuros lugares
o embrenhado,
o emaranhado dos cabelos
eu não vou junto, fico em paz
mas eu juro que te sigo,
eu vou atrás, caçando aquele seu cheiro
da raiz do cabelo
que é outro do da raiz do grito
que essa gente má
nem vê o que sente
eu tenho o ofá que
protege a gente do que é só mito
quero descobrir a cor do mundo dentro de você
quero voltar no tempo
e te ver criança
não ter esse ranço
eu quero te morder
as sardas enquanto
a gente balança
no balanço das tardes